A professora Maria Oseia Bier, lotada no campus Alta Floresta, foi desrespeitada durante uma reunião online ocorrida em 12 de fevereiro de 2021. Na ocasião, ela foi interrompida várias vezes por dois gestores do IFMT que a acusaram de ser "mal educada" e faltar com "urbanidade", levando o caso para instâncias superiores e solicitando a instauração de um processo administrativo disciplinar (PAD).
Diante da situação absurda, diversas mulheres e representantes de entidades sindicais assinaram uma nota de repúdio e indignação que expõe todas as faces do machismo envolvidos neste episódio. Veja a seguir a nota na íntegra.
NOTA DE REPÚDIO E INDIGNAÇÃO
É com imensa indignação que as seções do SINASEFE que atuam no IFMT vêm a público apresentar seu repúdio aos atos e métodos autoritários e machistas sofridos pela sindicalista e professora do IFMT - Campus Alta Floresta, Maria Oseia Bier, em uma reunião pedagógica online realizada no dia 12 de fevereiro de 2021. O sindicato repudia, também, os encaminhamentos posteriores à reunião, que culminaram na deflagração de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra a professora.
A referida reunião foi convocada pela coordenação de ensino do IFMT - Campus Alta Floresta, para tratar da aprovação do calendário escolar do ano letivo de 2021. Logo em seu início, Maria Oseia pediu a fala e se manifestou contra a sobrecarga de trabalho sofrida pelos docentes do campus, em decorrência da determinação de todos os sábados do ano como letivos (o que vem ocorrendo desde 2020). Contudo, durante sua fala, Maria Oseia foi abruptamente interrompida por um dos coordenadores do campus. Nesse momento, ela pediu que não fosse interrompida, porém, o coordenador insistiu, de forma impertinente, em realizar sua fala, e a servidora se recusou. O coordenador, contrariado, a chamou de “mal educada”, embora tenha sido ele que tenha tentado silenciá-la.
Em um segundo momento dessa mesma reunião, Maria Oseia se posicionou em defesa dos servidores públicos, contrapondo uma fala de outro coordenador do campus que afirmou que, durante o início da pandemia, os servidores ficaram em casa, recebendo seus salários e, portanto, têm dívidas com a sociedade. Novamente, durante sua fala, a servidora foi interrompida por esse outro coordenador, que a ofendeu, chamando-a de mal educada e questionando o seu comportamento como mulher, pelo fato de não permitir ser interrompida quando estava em seu direito de fala. As seções do SINASEFE que atuam no IFMT ressaltam que nós, servidoras e servidores públicos, não admitimos a culpa pela pandemia e não estamos em dívida com a sociedade. Ao contrário, tivemos que nos adaptar, sem suporte institucional, às tecnologias necessárias ao ensino remoto, assim como tivemos nossas vidas particulares tomadas pelo trabalho.
É importante destacar o fato de que, na referida reunião, ambas as tentativas de silenciamento da servidora foram lideradas por homens que ocupam cargos de gestão no campus, e Maria Oseia não foi a única servidora a ser desrespeitada. Nesse sentido, o ato foi violento em diferentes instâncias: i) a instância institucional, por usarem a categoria hierárquica como forma de opressão; ii) a instância da dominação de gênero, pelo fato de que apenas homens efetuaram o movimento de silenciamento da servidora; iii) a instância da luta de classes, uma vez que Maria Oseia, em suas falas, atuava claramente em defesa dos trabalhadores e de seus direitos, cumprindo sua função enquanto sindicalista.
As narrativas da professora Maria Oseia são claras e podem ser comprovadas pelo vídeo da reunião. As interrupções e os xingamentos são constrangedores e tensionaram o debate, ocasionando uma descarga emocional na vítima, que, mesmo sendo atacada e constrangida, conseguiu levar o seu discurso com coerência e precisão até o final.
Este é mais um caso de silenciamento de mulheres em seu espaço de trabalho. O fenômeno é tão recorrente que estudiosos da área de gênero e comunicação o denominaram de "Manterrupiting" - termo que ficou famoso após o debate presidencial nos Estados Unidos, em que o então candidato Donald Trump interrompeu 51 vezes a sua opositora Hillary Clinton durante um dos debates. Essa prática reflete a crença de que as vozes masculinas são mais importantes, e essa ideia é reforçada por meio de punições contra as mulheres que são mais assertivas ou "brigam de volta", em defesa de sua voz.
Embora seja vítima dessas atitudes machistas e autoritárias, Maria Oseia responde um PAD, sendo acusada, pelos próprios agressores, de falta de urbanidade e conduta desproporcional. Tal ação se apresenta como uma punição institucional a uma professora que se recusou a ter sua voz tomada por dois homens, coordenadores, durante a sua vez de fala em uma reunião pedagógica de seu local de trabalho. As seções do SINASEFE se solidarizam com a situação da servidora e pedem que haja justiça e respeito com a luta em defesa dos trabalhadores e das demais minorias dentro do IFMT.
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Seção Rondonópolis
Se solidarizam e assinam esta nota:
ANDES - Regional Pantanal do Andes - SN
SINTECT - Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de Mato Grosso
AAMOBEP - Associação de amigos do Centro de Formação Olga Benário Prestes
COLETIVO DE TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO MUNICIPAL UC - Corrente Sindical Unidade Classista
COLETIVO FEMINISTA CLASSISTA ANA MONTENEGRO
COLETIVO DE MULHERES CAMPONESAS E URBANAS.
SINETRAN - Sindicato do Servidores do Departamento Estadual de Trânsito do Estado de Mato Grosso
DCE - UFMT/Cuiabá - Gestão O Futuro Exige Coragem
LEVANTE Popular da Juventude
UEE - União Estadual dos Estudantes do Mato Grosso SINDES Pela Base
UJC - União da Juventude Comunista
Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico