As seções sindicais do SINASEFE em Mato Grosso – seções Cáceres, Mato Grosso, Rondonópolis e São Vicente – não poderiam deixar de conversar com os servidores públicos e os trabalhadores em geral sobre as graves ameaças que pairam sobre a classe trabalhadora. Além do descaso do governo, que não toma medidas de proteção à população frente à continuidade da pandemia, há ainda os constantes ataques aos servidores públicos, como a precarização do trabalho, o corte de recursos às instituições públicas que atendem os assalariados (escolas, hospitais, etc.) e o fantasma da reforma administrativa que nos atormenta e coloca a estabilidade dos trabalhadores em risco, diminuindo os postos de trabalho, além de precarizar ainda mais os serviços públicos. Todos esses fatores tornam urgente a nossa organização para o enfrentamento desses problemas.
O projeto fascista no Brasil avança de forma dramática. A banalização da vida de algumas camadas da população é demonstrada por meio do descaso com o avanço descontrolado da pandemia, e da violência principalmente sobre as periferias e povos originários. Nenhuma medida efetiva, sequer, tem sido tomada para a proteção dessas populações. Ao compararmos o Brasil com países que agiram colocando a vida em primeiro lugar, fica claro que o negacionismo do governo é responsável por mais de 135 mil vidas perdidas. Negando a Ciência, a gravidade da Covid-19 e agindo de forma contrária às orientações da Organização Mundial da Saúde, Bolsonaro, Mourão e Guedes se tornam os principais responsáveis por essa tragédia que estamos vivendo.
Basta observarmos o exemplo da China, ou seja, o cenário inicial da pandemia e o período quando o vírus ainda não era totalmente conhecido. Lá, pouco mais de cinco mil vidas foram perdidas – e é preciso considerar que o país que tem quase sete vezes a população do Brasil.
Nossos problemas não acabam na pandemia. Com a mobilização dos que negam a gravidade do coronavírus e o apoio de grupos armados, o projeto dos que estão no poder avança com um tipo de autoritarismo que busca eliminar qualquer forma de crítica e de oposição que venha de grupos populares, estrangulando o pouco que temos de democracia no Brasil. Esses que agora estão no governo, que fazem declarações racistas, machistas, homofóbicas, conseguiram se eleger num momento de grande descontentamento com a trajetória do lulismo. Além disso, o esgotamento da política de conciliação de classe, que deseducou a luta da classe trabalhadora, aliado a crise econômica, contribuíram para o sucesso desse grupo no poder.
Diante da enorme pressão social, a saída encontrada pelo PT foi intensificar a agenda neoliberal, sob o pretexto do “déficit das contas públicas” e do “ajuste fiscal necessário”. Exemplo disso foi o corte de 40% dos investimentos nas áreas sociais, feito no governo Dilma – medida que aprofundou a crise, levando ao impedimento da presidenta por um golpe jurídico/parlamentar sem qualquer resistência popular significativa, devido à impopularidade em que se encontrava o governo.
A crise econômica, a atual crise da saúde, junto com o desmonte das políticas de proteção e com a ausência de uma política de investimentos públicos e geração de emprego, nos colocou em uma situação terrível na luta pela sobrevivência. Parece impossível saber exatamente o número de desempregados/as neste momento no Brasil, pois, os últimos dados revelam que já são 12,8% de desempregados/as e mais de 40 milhões que estão na informalidade. Essa situação não começou agora: a crise sanitária apenas revelou a tragédia do desemprego, da informalidade e a ausência de serviços públicos básicos, como saneamento, saúde e assistência social.
Aqui fica óbvio que esse projeto de governo, que fragmenta e precariza a classe trabalhadora por meio das ideologias individualistas do sucesso e da prosperidade (o que abarca a teologia da prosperidade), se desenvolveu sustentado por uma tradição autoritária, que nunca foi verdadeiramente combatida, e por um instrumento repressor de Estado que nunca deixou de operar. Esse instrumento, inclusive, foi “atualizado”, como uma espécie de permanência das estruturas jurídicas e políticas que herdamos da ditadura empresarial militar.
Essas estruturas violentas do Estado nunca deixaram de pesar sobre os pobres, as mulheres, os negros (principalmente as mulheres negras), os povos indígenas, a comunidade LGBT e sobre os 20 milhões de trabalhadores sem-terra. Basta olharmos os números de violência e de extermínio, que nunca pararam de crescer. A diferença é que, com a acentuação da crise e o desenvolvimento do fascismo, essa violência se amplia sobre outros setores da sociedade e se intensifica ainda mais sobre a população já violentada. Ao olharmos o trágico número de mortes na pandemia, vemos que essas mortes têm classe e têm cor.
A discriminação de grupos sociais é uma prática que faz parte do sistema capitalista, que se mantém apoiado na dominação. No caso do Brasil, a inferiorização dos negros e negras, dos povos indígenas, das mulheres, dos LGBTs e dos pobres faz parte da estrutura da nossa sociedade e, portanto, deve ser alvo da nossa luta diária, seja nos espaços educacionais, nos outros locais de trabalho ou na vida comunitária. Os momentos de crise mostram o racismo, o machismo, a homofobia, o desprezo aos povos indígenas e a criminalização dos movimentos sociais, agravando algo que já existe. Tudo isso em favor da maior precarização do trabalho, do desemprego e da morte, ou pela disseminação das ideologias que discriminam as minorias. Não foram as falas machistas e racistas do Bolsonaro que inventaram o machismo, a homofobia e o racismo no Brasil. Não é a política genocida de abandono dos povos indígenas e quilombolas executada por esse governo que criou a inferiorização desses povos, mas certamente ela aprofunda essa realidade.
Além dos problemas já apontados, a crise aumenta os problemas ambientais. A devastação da floresta Amazônica cresceu três vezes mais. O incentivo ao garimpo ilegal em terras indígenas, o desmatamento e as queimadas são maneiras de se conseguir lucro rápido, e são ainda mais incentivados pela falta de fiscalização, que faz parte da política de destruição da floresta. Até mesmo alguns especialistas ligados à produção agropecuária afirmam que não seria necessário ampliar o desflorestamento para garantir lucro, tendo em vista o amplo território já devastado e a possibilidade de utilização de novas técnicas e tecnologias. Mais um dado importante é a liberação, no Brasil, do uso de agrotóxicos proibidos em outros países e a falta de fiscalização, que intensifica os riscos à saúde, principalmente para quem manipula diretamente essas substâncias e para as cidades próximas.
Considerando o que foi dito, fazemos as seguintes propostas para defender nossos direitos:
1 - Primeiramente, e acima de tudo, devemos defender a vida dos trabalhadores e de seus filhos, impedindo que o retorno às aulas presenciais aconteça sem a garantia de protocolos de segurança.
2 - Nosso outro grande desafio, trabalhadores e trabalhadoras, é derrotar este governo: Fora Bolsonaro, Guedes e Mourão! As seções sindicais do SINASEFE MT – seção Cáceres, seção MT, seção Rondonópolis e seção São Vicente – devem utilizar todos os espaços para denunciar que a responsabilidade pela devastação ambiental e pela tragédia da pandemia no Brasil é do atual governo, pela falta de condições econômicas para os/as trabalhadores/as manterem o distanciamento social, por desestruturar os órgãos de proteção ambiental e por privilegiar os bancos, em vez de auxiliar os/as pequenos/as comerciantes e os/as assalariados/as.
3- Há ainda uma questão de máxima importância, que é a necessidade urgente de combater o desmonte das políticas sociais (Saúde, Educação, Previdência Social) e barrar a Reforma Administrativa.
Por isso, através desta carta aberta aos trabalhadores e trabalhadoras, tanto do serviço público quanto do serviço privado e informal, o SINASEFE convoca a todos para se mobilizarem em defesa da vida, do meio ambiente e das políticas sociais! Diga NÃO à Reforma Administrativa.